Diversidade no percurso formativo
Passos diversos em um percurso coletivo
A diversidade é uma temática transversal no percurso formativo do Programa Itaú Social UNICEF. Saiba mais na voz de quem irá construir com as organizações novos olhares e caminhos para uma educação integral e inclusiva nos territórios.
Eu tenho um colar
Graça Graúna, Canção peregrina
de muitas histórias
e diferentes etnias.
Voltado a organizações da sociedade civil que atuam com crianças e adolescentes na perspectiva da educação integral e inclusiva, o Programa Itaú Social UNICEF tem como objetivo apoiar o fortalecimento das instituições e sua articulação no território. A iniciativa parte das experiências construídas ao longo de 25 anos do Prêmio Itaú UNICEF e propõe um novo formato de inscrição formativo. As OSCs consideradas aptas à adesão irão participar de um percurso formativo on-line e gratuito que se inicia no dia 31/08. Ao longo de três meses, as organizações serão convidadas a refletir sobre suas práticas, revisitar o contexto em que atuam e elaborar um plano de intervenção articulado ao território.
Nesse percurso, a temática da diversidade estará presente de maneira transversal, a fim de estimular reflexões e ações para o enfrentamento de preconceitos de raça/etnia, gênero, sexualidade e pessoa com deficiência. Segundo Mariana Cetra, técnica do Programa pelo CENPEC Educação:
“Se a gente não abordar esses temas na teoria e na prática, nunca teremos uma educação inclusiva, que contribua para a construção de uma sociedade democrática de fato. Este será um trabalho ousado, desafiador. Todes nós, sujeitos e setores sociais, precisamos nos dispor a olhar para essas questões. Esse é um ponto central na formação.”
Diversidade no Programa Itaú Social UNICEF: com a palavra, as consultoras
O olhar para a diversidade está presente desde a concepção do Programa, que conta com a consultoria de Liliane Garcez, especialista em pessoa com deficiência, e Giselle dos Anjos Santos, especialista nos marcadores sociais de raça/etnia, gênero/sexualidade.
“Convivemos com mulheres, homens, adultos, crianças, adolescentes, idosos, heterossexuais, gays, lésbicas, travestis, transgêneros, negros, brancos, indígenas, pessoas de diferentes etnias e procedências. Vivenciamos, assim, que a raça humana tem grande diversidade. Mais que isso, dentro de cada uma dessas características, há muitas diferenças. Ou seja, os adultos, por serem adultos, não são iguais entre si; os negros, também não, os indígenas, tampouco. Até porque nós temos várias dessas características juntas. Posso ser uma mulher, branca, lésbica etc.”, elucida Liliane.
Administradora pública e mestra em educação, Liliane atua e milita nas áreas de educação e direitos humanos há mais de 20 anos. É idealizadora e articuladora do COLETIVXS, organização que desenvolve projetos educacionais colaborativos e inclusivos.
Um dos marcadores sociais considerados na educação inclusiva é a condição de deficiência. “Ela pode ser uma das características de uma pessoa, e, como tal, não a define, nem a transforma em um ser de outro planeta. Entender a deficiência como parte da diversidade humana é uma questão básica para não excluir, tampouco repetir atitudes e pensamentos preconceituosos”, ressalta a educadora.
Por sua vez, a historiadora Giselle destaca a importância da inclusão e da equidade para todos os setores sociais:
“A perspectiva da diversidade diz respeito à inserção de grupos historicamente excluídos aos direitos e aos espaços que lhes foram sistematicamente negados. Assim, a promoção da diversidade está ligada ao desenvolvimento de justiça social. Mas, diferente do que muitas pessoas entendem, não diz respeito apenas aos grupos marginalizados, pois todos e todas se beneficiam quando existe mais equidade de gênero, raça, sexualidade, entre pessoas com e sem deficiência etc.”, explica.
Mestre em Estudos de Gênero e Teoria Feminista (UFBA) e doutoranda em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), Giselle é autora do livro Somos todas rainhas (2012), que trata da história das mulheres negras no Brasil, e co-autora do livro Mulheres afrodescendentes na América Latina e no Caribe: Dívidas de igualdade (2018), publicado pela CEPAL no Chile e no Brasil. “As desigualdades de gênero, raça e sexualidade possuem um caráter estrutural no Brasil, é necessário reconhecer isto, além de construir estratégias para superar tais hierarquias que estão presentes no nosso imaginário e em todos os espaços sociais”, sublinha.
Nessa trilha, as consultoras destacam a importância do olhar sobre a diversidade no percurso formativo:
“O Programa está dando um passo muito significativo, ao provocar as OSCs a refletirem sobre o seu papel para a construção de uma sociedade mais justa e diversa”, afirma Giselle.
“Ficamos contentes que, ao realizarem suas inscrições, as organizações disseram sim ao nosso compromisso com a redução dessas situações de exclusão social”, celebra Liliane.
Um colar de contas diversas: conheça algumas(ns) de nossas(os) mediadoras(es)
O foco na diversidade está presente não apenas nos conteúdos da formação, mas também na escolha das mediadoras e dos mediadores que farão o acompanhamento das organizações ao longo do percurso. O grupo é composto por educadoras e educadores de regiões, origens culturais e étnicas, idades e experiências diversas. Essa composição reflete a importância da temática para o Programa.
“Ser singular é possuir e manifestar características únicas. A soma das singularidades constrói a riqueza da diversidade. Trabalhar dentro deste cenário é somar pontos de vista diferentes, edificando pessoas melhores e construindo grandes organizações”, reflete a mediadora Mila Guedes. Publicitária, atua com diversidade e inclusão de pessoas com deficiência. Mila também é idealizadora do Milalá, ponto de encontro digital que elabora pareceres e análises de lugares acessíveis para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, estimulando-as a passear, viajar e participar da vida cotidiana.
“Trabalhar com a diversidade na educação integral e inclusiva é frutífero para todos e todas”, afirma a educadora. “Ela afasta a visão homogeneizadora da educação e parte para a necessidade de entender a singularidade de cada um, construindo processos pedagógicos que respeitem as suas particularidades ao se relacionarem com o conhecimento”, complementa Mila.
Outro debate central quando se trata de diversidade e inclusão é a temática de gênero e sexualidade. “Falar sobre esses temas nos dias de hoje é fundamental para quebrarmos barreiras e promover a derrubada de preconceitos e opressões”, destaca a pensadora das ciências sociais Onika Bibiana. Mulher negra travesti, moradora do Grajaú, periferia no extremo da zona sul da capital paulista, Onika pauta seu discurso e sua luta nas questões interseccionando raça, gênero, sexualidade e classe.
A educadora integra a Coletiva Travas da Sul para realização de ações que promovem cultura, educação, acesso à saúde e economia à população LGBT da região sul de São Paulo.
“Somente através da educação podemos repensar ideias e atividades que são violentas para outrem, porém que não nos damos conta. Além disso, sem uma educação que pense essas questões, continuaremos a criar espaços que oprimem, excluem e fecham portas para a diversidade. É preciso ir além, com olhar apurado e escuta ativa trabalhando para que no futuro tenhamos menos violências e crimes de ódio motivados por subjetividades”, reflete Onika.
O papel da diversidade dialoga com a centralidade do território na concepção de educação integral e inclusiva que embasa o Programa. A valorização das culturas locais e as pessoas que integram suas tramas, enriquecendo a esfera coletiva com suas formas de ser, de se relacionar e se expressar no mundo, é fundamental ao se pensar a articulação com o território. Nesse sentido, o pertencimento é elemento de grande valor. É o que salta aos olhos e ouvidos no depoimento do mediador Fabrício Nazário Severino.
“Ao concluir o ensino médio não sabia qual curso superior escolher, pois tinha o sonho de impactar o mundo de alguma forma, mas não sabia como. Logo vi que o mundo também era o lugar onde eu vivia. Assim, comecei a desenvolver várias atividades dentro da minha comunidade quilombola, localizada em Serro (MG). Hoje estou como presidente da comunidade. Nosso objetivo é buscar um desenvolvimento educacional e o empreendedorismo social”, conta.
Atualmente, Fabrício cursa ciências e tecnologia na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). No vídeo a seguir, o jovem educador fala da importância da educação integral em sua trajetória. Assista:
A diversidade na forma e no conteúdo
Além de estar representada no perfil das mediadoras e dos mediadores, a diversidade é foco constante da formação, perpassando a seleção e elaboração de materiais e atividades propostas.
Nesse sentido, a coordenadora do Programa pelo CENPEC Educação, Letícia Araújo Moreira da Silva, ressalta a importância do diálogo com o grupo de mediadoras/es, que trazem diferentes referenciais, vivências e linguagens.
“Esse é um ponto importante a ser considerado no percurso: o jeito de escrever, expressar o conteúdo, bem como suas fontes e autorias devem contemplar as regionalidades e os marcadores sociais”, afirma a coordenadora.
Para a mediadora Meiry Coelho:
“Tendo como base uma educação integral e transformadora, é relevante o Programa Itaú Social UNICEF utilizar na formação com as OSCs um caminho de educação para/pela diversidade, compreendendo que a pluralidade cultural, regional, étnica/racial, religiosa, linguística, sexual e de gênero deve estar presente em todo o material e nas atividades desenvolvidas.”
Feminista antirracista, ativista de Direitos Humanos, mestra em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e consultora em Políticas Públicas para a igualdade de gênero, raça/etnia e direitos humanos, Meiry considera fundamental “a adoção de referenciais teóricos e empíricos que apresentem a dinâmica dessas diferenças e permitam processos metodológicos de valorização da diversidade”.
“A intersecção de saberes regionais e ancestrais, linguagens, experiências e identidades dos territórios com os referenciais teóricos de valorização da diversidade é um caminho potente para uma educação transformadora. Essa é uma perspectiva importante a ser trabalhada com crianças e adolescentes”, afirma a educadora.
Assim, forma e conteúdo se articulam neste percurso em direção a uma educação integral e inclusiva de fato.
“Esperamos que gostem do que preparamos! E que o percurso formativo, em cada uma de suas estações, instigue nossos olhares para dentro de nossas organizações e para nosso território e nos apoie a seguir eliminando as barreiras que nos impedem de conviver com todas e todos, sem exceção”, convida Liliane Garcez.
Último dia de adesão!
O período de adesão das organizações da sociedade civil para participar do Programa Itaú Social UNICEF foi prorrogado. Agora, as OSCs podem cadastrar seus dados institucionais na Plataforma Prosas até 23/08 (domingo) às 17h59 (horário de Brasília)! Ao concluir a adesão, as OSCs consideradas aptas de acordo com o regulamento irão integrar um percurso formativo em que serão convidadas a refletir sobre sua história e sua articulação com o território. Durante a formação, as organizações terão apoio de mediadores(as) para desenvolver planos de intervenção e concorrer à assessoria técnica e ao fomento financeiro de até R$ 100.000,00 para implementar suas propostas.
Se os dados cadastrados estiverem adequados ao edital, as organizações receberão um e-mail com acesso para o percurso formativo, que iniciará em 31/08. Para mais informações, acesse a página de formação. Até lá!